João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.” Troque o verbo amar por “cobrar mais de”, e considere que Lili paga a conta e não pode cobrar de ninguém, e o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, ilustrará o desalinhamento que tornou o mercado privado de saúde bastante ineficiente, traduzindo-se na chamada “inflação médica”.

“Os players têm incentivos desalinhados à medida que são remunerados de acordo com o uso de seus serviços. Ou seja, médicos, indústrias de medicamentos e equipamentos, hospitais, clínicas, laboratórios, serviços especializados etc. ganham dinheiro se fizerem mais e mais; é necessário que o incentivo para todos seja gerar valor para o paciente, não fazer mais por fazer. Estima-se que fraudes e desperdícios representem de 20% a 30% dos custos do setor”, diz Jorge Carvalho, head de inovação do Grupo Hospital Care. “O problema se acentua com a mudança epidemiológica que vivemos, passando das doenças agudas às crônicas, que exigem um cuidado menos episódico e mais constante.”

Nos últimos cinco anos, empreendedores e inovadores têm feito ensaios no Brasil para que esse círculo vicioso comece a ser quebrado, porque não aceitam um ambiente da saúde tão complexo, conservador e fechado como o atual. “De um lado, surgem cada vez mais healthtechs trazendo novos olhares, digitalização, uso de dados e experiência do usuário (UX); de outro, empresas estabelecidas montam laboratórios de inovação, fazem inovação aberta e fusões e aquisições nessa direção”, comenta Carvalho, que acompanha de perto a movimentação.