Não são só as fintechs que têm tirado o sono das instituições financeiras tradicionais; uma silenciosa inovação de ruptura, menos tecnológica e mais social, vem sendo feito pelas cooperativas de crédito, que ganham cada vez mais capilaridade
A cidade de Ceres, com seus 22 mil habitantes, fica na região central de Goiás. Distante 180 quilômetros de Goiânia, o município gira em torno de uma intensa atividade agrícola. É lá que vive o biomédico João Barroso Diniz, que, aos 38 anos, também trabalha como pecuarista. Nos dias úteis, ele dificilmente para em casa. Quando não está no laboratório, está no campo – ou no banco. Isso mesmo. É que mais do que simples cliente, Diniz é um dos 8,2 mil sócios do Sicoob Unicentro Norte Goiano. Mas não se trata de um banco tradicional. Tampouco é uma fintech. Trata-se de uma cooperativa financeira, um tipo de negócio financeiro que anda a passos largos Brasil afora.
Comum em países da Europa e da América do Norte, o modelo cooperativo tem ganhado escala no Brasil, com crescimento entre 15% e 20% ao ano. De 1997 para cá, o setor saiu de uma participação de 0,35% para quase 4% do total de operações registradas pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN). Pode parecer pouco, mas considerando que R$ 4 em cada R$ 5 são movimentados exclusivamente por cinco instituições – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander –, as cooperativas vão muito bem, obrigado. Agregadas, elas formariam hoje o sexto maior banco de varejo do País, com R$ 177 bilhões de ativos, de acordo com a consultoria alemã Roland Berger.
Além do Sicoob, completam a lista das maiores cooperativas de crédito do Brasil Sicredi, Unicredi e Cresol. Em comum, todas carregam uma forte atuação regional. Ainda mais em localidades como Ceres, que até não muito tempo atrás era atendida exclusivamente pelos hoje quase inexistentes bancos estaduais. Com a concentração do mercado, os grandes bancos preferiram focar as cidades grandes e médias. Quando o interior ficou desassistido, abriu-se uma oportunidade para as cooperativas, já ambientadas em nichos como agricultura e saúde. “Elas compõem a realidade da região em que estão inseridas, promovendo uma melhor inclusão financeira e desenvolvendo soluções voltadas ao crescimento da comunidade”, explica Harold Espínola, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (DESUC) do Banco Central (BC).